No sector da energia a abordagem à questão das alterações climáticas tem servido de bandeira aos governos PS e PSD/CDS, pretendendo com ela fazerem passar a ideia falsa de que Portugal está na vanguarda europeia e mundial da transição verde. A transição energética impulsionada pela União Europeia, submetida aos interesses do grande capital, desadequada e insuficiente, insiste em «soluções de mercado», como o comércio de emissões ou, ainda, na «fiscalidade verde», que revelaram já a sua ineficácia e perversidade. Incidindo quase exclusivamente num “roteiro de descarbonização” muito centrado na subsidiação com dinheiro público dos investimentos e de actividades das empresas privadas. Não haverá uma Transição Energética que responda às necessidades do País, se esta continuar subordinada aos interesses do grande capital. Exige-se, assim, um Plano Energético Nacional (PEN) que, sendo um instrumento institucional estratégico, dirigido e elaborado, no fundamental, por entidades públicas, vise um aprovisionamento energético dotado de qualidade e segurança, com vista ao adequado desenvolvimento socioeconómico do País e ao bem-estar das populações. O planeamento e programação energética devem ser subordinadas a factores e critérios socioeconómicos, tecnológicos e ambientais, focados na realidade e nos interesses do País. O novo paradigma passará obrigatoriamente por um combinado energético de diversas formas e origens. Uma combinação onde as energias fósseis têm de perder peso significativamente, a par da crescente presença das renováveis e aproveitamento de outros re- cursos endógenos, e onde a eficiência energética é uma exigência transversal a toda e qualquer política. A urgência da mudança exige o bom senso de considerar um processo que deve ter a obrigatória participação dos cidadãos e atenção às suas condições de vida, emprego e direitos. Exige a planificação – um Plano Energético Nacional –, a gestão criteriosa dos recursos naturais, a convergência no plano internacional para uma evolução comum, solidária e cooperativa. Ou seja, uma Transição no respeito pela Constituição da República Portuguesa que estabelece, no seu Artigo 81.º, como incumbência prioritária do Estado no âmbito económico e social, «Adoptar uma política nacional de energia, com preservação dos recursos naturais e do equilíbrio ecológico, promovendo, neste domínio, a cooperação internacional».